Fiéis lotam as ruas de Cachoeira e festejam Nossa Senhora da Glória |
Órgãos Públicos Municipais de Cachoeira receberam fortes criticas do Jornalista Jorginho Ramos, Gerente de jornalismo da TV educativa, em relação à desorganização da secular festa da Boa Morte, ele chama a atenção principalmente da Prefeitura e Câmara. Confira na integra suas palavras, matéria postada no jornal A Tarde, do dia 23/08/2010
Salvem a festa da Boa Morte
Na semana passada foi realizada em Cachoeira a Festa da Boa Morte promovida pela secular Irmandade das mulheres negras descendentes de escravas, reconhecida como patrimônio imaterial da Bahia e admirada nacional e internacionalmente pelo seu significado e importância cultural. A festa tem levado a cada ano para a cidade heroica milhares de pessoas atraídas pela beleza dos ritos da Irmandade da Boa Morte, pela força e carisma dessa devoção que reúne numa convivência pacífica atos do catolicismo e elementos com simbolismos e cultos de matriz africana e pela sua beleza história de resistência a escravidão, a intolerância e ao preconceito.
Mas o que tem sido visto de algum tempo pra cá, à revelia da Irmandade, é bom que se esclareça, é uma tentativa de carnavalizar a data da festa. É lamentável que algumas pessoas se dirijam a Cachoeira esperando ver um cortejo profano, embora bonito, como da Lavagem do Bonfim. Domingo, na hora da missa solene uma roda de capoeira foi montada em frente à igreja onde se realizava a cerimônia. Em seguida, a procissão em Louvor a Nossa Senhora da Glória foi acompanhada desrespeitosamente por algumas pessoas de bermuda, sem camisa e segurando copos de bebida. Alguns até estranhavam e perguntavam “é só isso?” esperando, certamente, algum sambão ou batucada pra seguir em frente...
Afora isso a própria cidade não foi preparada adequadamente para receber os milhares de visitantes, muitos estrangeiros. Não havia nenhum serviço receptivo e muitos turistas não tinham a quem se dirigir para obter informações sobre a festa e própria cidade de considerável valor histórico e tombada como monumento nacional justamente pela beleza de seu patrimônio arquitetônico, artístico e cultural. Folhetos e folders, só mesmo os dos candidatos a cargos eletivos. O próprio trânsito não foi interrompido no trajeto da procissão, e muitos carros se misturavam aos fiéis. Na falta de sanitários químicos, turistas realizavam suas necessidades fisiológicas na via públicas.
Enfim, Cachoeira, em vez de um dia de festa viveu um dia de caos. Lucro mesmo, legitimamente, tiveram os donos de bares, restaurantes e pousadas.
É oportuno que a comunidade cachoeirana, através de suas representações, institucionais ou não, o poder público como a prefeitura a Câmara Municipal, a própria Irmandade, os comerciantes que tanto lucram com a festa e nada retribuem para Irmandade, a Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB) e pessoas sinceramente interessadas, discuta urgentemente como evitar a deformação dessa festa religiosa e que ela se transforme em desorganizada festa de largo, em todos os seus aspectos negativos. Repensar inclusive como a própria cidade pode se engajar melhor na sua estrutura e organização, saber receber os turistas com folhetos explicativos sobre o caráter da festa e recomendações, inclusive para fotógrafos e cinegrafistas não constrangerem as irmãs, invadindo o espaço reservado a elas, no momento em que, contritas, cumprem seus ritos.
Uma bela história como dessa Irmandade, com todo seu simbolismo e significados, que sobrevive há quase 200 anos de devoção a Nossa Senhora da Boa Morte, não pode ser prejudicada, justamente quando é reconhecida como patrimônio cultural e torna-se uma referência mundial. Se nada for feito, restará à Irmandade recolher-se cada vez mais a pureza dos seus ritos. Certo mesmo é que ela mais uma vez, sobreviverá. Mesmo que ninguém interceda por ela, as irmãs continuarão rogando a Virgem Santíssima para que interceda por nós!
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